"Ordem e progresso: vontade construtiva na arte brasileira" aborda a mudança de projeto de país desde o pós-guerra na oposição entre rigor formal e desequilíbrio nas artes visuais; no MAM, até 03/04, entrada gratuita
Foto Reprodução: Orlando Brito, Guarda Presidencial, Palácio do Planalto 1966-2033
Na esteira da posse da nova presidente do país, as mudanças no projeto de Brasil surgidas desde o pós-guerra são vistas pela ótica das artes visuais na exposição Ordem e progresso: vontade construtiva na arte brasileira, com curadoria de Felipe Chaimovich. A coletiva exposta no Museu de Arte Moderna de São Paulo traz cerca de 80 obras do acervo do museu que mostram como o ideal de país do futuro dos anos 50, representado pela assertividade resplandecente do concretismo, se contrapõe a manifestações artísticas que transgridem o rigor formal e apontam para outras visões de Brasil.
A dicotomia entre o ideal de Brasil do futuro e os problemas reais de um país ainda em desenvolvimento, mesmo nos dias de hoje, se torna evidente na produção artística desde o pós-guerra. Para tornar essa relação mais direta, a disposição das obras divide-se em quatro núcleos temáticos que exploram os contrapontos entre o construtivismo e a desordem, em vez de obedecer a ordem cronológica.
O primeiro núcleo aborda o concretismo em si, com obras de Alexandre Wolner, Lygia Pape, Lothar Charoux e Ivan Serpa, entre outros. Em contraposição, obras que usam a estética concretista com resultados distintos que subvertem a matriz, como a série de três vídeos “Repeat after reading” (2006), do venezuelano Mauricio Lupini, em que onomatopéias extraídas de três canções brasileiras da bossa-nova criam um jogo sonoro e visual que remete à poesia concreta.
A criação e a inauguração de Brasília dão tema ao segundo nicho, em que figuram fotos da capital do país pelas lentes de Thomaz Farkas, Orlando Brito e Mauro Restiffe.
No terceiro núcleo, corroborando a subervsão à lógica estrita, está a “Máquina curatorial” (2009), de Nicolás Guagnini, composta por quatro estruturas rotatórias, como portas, que servem à exibição de trabalhos de outros artistas, num trabalho de apropriação e de jogo de imagens na rotação, que se completa com a participação do público.
No quarto nicho estão os processos construtivos da economia informal composto por obras como “Camelô” (1998), de Cildo Meireles, um bonequinho de 18 cm que agita os braços (tração por fio e motor) junto às suas duas banquinhas de “produtos”; a série de fotos de carroceiros feitas por João Urban em 1999; e a instalação “Do universo do baile” (2008, também do comodato de Pedro Barbosa), de Mauricio Dias e Walter Riedweg, composta por 550 balanças verdes e amarelas que compõem um quadriculado no chão, e duas projeções, em uma das quais um travesti lê a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Nenhum comentário:
Postar um comentário